Ta na cara!

Caetano nunca pareceu tão próximo quanto agora. As paisagens que acompanham o meu chegar nunca pareceram tão estranhas quanto hoje. A cidade amanhece Corinthians, dorme ilusão e acorda realidade. Não tem nada de instigante em perceber a ingenuidade mascarada de ignorância. Emitir trouxe malefícios também, aproximou da nossa rotina, a banalização e o trânsito das informações. Congestionado. Estamos todos. Não fazer nada não está mais eminente a preguiça, se torna necessário devido ao curto circuito da mente. Procurar, ficar sóbrio, enquanto o trem lotado se mostra incapaz de fazer o mesmo. Bêbados, cegos, sobressaltados por alguém, um sentimento de invalidez domina o vagão por segundos, por vezes pesadas meia hora. Não escapo. Voltar é mais cansativo que ficar. Ir não é o problema, sempre haverá um poadcast ou uma música que toque a sua incapacidade de ficar solitário cercado por multidão. Somos somente o reflexo do trânsito, somos o engarrafamento da nossa própria existência. Morar na filosofia não séria a questão, rimamos sempre amor e dor, confundimos sentimentos, repelimos o desconforto de fazer. Sentimos que por vezes nossas vontades precisam acontecer, ingenuidade é acreditar vitorias pra sempre. Provavelmente se concretizar dar-se pela ocasião do momento. Não ter muita idade inválida a morte. Confundir não significa erros, persistir e observar a própria degradação vai além de masoquismo, é pura falta de verdade. É uma mascara que te encaminha para caminhos tortuosos. Lavar a cara no banheiro não é suficiente, em cada segundo, os pés precisam estabelecer conexão com o chão, para lembrar-te da existência e da condição. Viver nunca foi fácil, já notei o dizer desde antes, felicidades não duram mais que um dia. Esse estado precisa provar diariamente a sua presença. Nunca foi fácil provar. Acreditar só em felicidade desrespeita a alma. Ta na cara, que amanhã acordaremos no mesmo espaço, percorrendo o novo habitual, porém munidos de esperança. De um dia, há quem sabe. Ta na cara. 

Prometheus, 2012, Eua

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Às vezes me pergunto, vivemos em dia onde pedimos mais do que fazemos, temos expectativa, mas não sabemos por que a mesma foi gerada. Travo esse embate com o meu âmbito pessoal, digo essas coisas, por achar o mundo chato demais. Tanta gente falando sem parar e ninguém ouve nada. As leituras ocorrem de acordo com a dita influência. A influência capaz de fazer seu amigo compartilhar e através de um curtir o reflexo da idéia do outro se concretiza, então, existe a abdicação da mente e a inércia mais uma vez é seguida.

E isso, costuma ocorrer em diversas esferas, não seria diferente no mundo cinematográfico, não é mesmo? A crítica diz que o novo filme do cineasta Ridley Scott é ruim, então o público se condiciona ao mesmo sentimento. Antes de tudo, acompanho o trabalho do crítico de cinema e acho que dentre uma categoria, poucos são relevantes, já que encontramos muito ressentimento e preconceitos bobos em muitas posições que no final das contas, se posiciona como á analise da obra. Alias, pode até ser uma idéia arcaica, mas no balanço final, o que tem mais prestígio e o que detém a sensibilidade capaz de mudar uma vida, nesse caso o próprio cineasta, o objeto da analise, sem o mesmo não existe o exercício de observar. Então, é preciso tomar o cuidado para os apontamentos ou se prender na previsibilidade do maniqueísmo, resulta em pura preguiça ou comodismo.

Nada se fecha no bom ou ruim, as coisas estão além dessas nomenclaturas, às entrelinhas é necessária, as coisas estão em andamento, se transformando a cada hora, portanto, requer uma sensibilidade aguçada para desbravar em cima da criação dos outros, mesmo que signifique que esse outro nunca verá a sua visão sobre o seu trabalho.

Prometheus

Prometheus, obra de Scott, se encaixa nessa questão, produção que está no imaginário de muitos há bastante tempo, já que o mesmo anunciou a algum tempo que voltaria ao gênero que lhe trouxe a fama, a ficção cientifica. Já viu não é? A expectativa é a mãe da ….

O universo é o mesmo que da sua obra Alien, já a história é diferente, dessa vez, a criação do ser humano é o estopim do roteiro e a magia do gênero ocorre, com a velha textura habitual nos personagens nesse tipo de produção. Tecnicamente impecável, uma ausência de ritmo no seu inicio, porém manobra certa que prepara o terreno para algo grandioso que pode chegar a qualquer momento. E chega, alcança as vistas de quem sentou na cadeira do cinema esperando o novo filme de Scott e não uma ampliação de sua obra mais conhecida.

Todos os clichês dos filmes assim estão presentes na fita, só que ao contrário de qualquer mané da esquina, o diretor em questão sabe como trabalhá-los e mesmo não aprofundando os personagens, consegue nos levar pra dentro da história, brincando com a gente, mostrando respostas fáceis e desdobramentos mais ainda, com tudo nem tudo é regalia, existe complicação, traz novos questionamentos caracterizando perguntas que possivelmente terão respostas numa provável seqüência.

David

Uma estratégia que lembra os tempos de ouro, quando o seriado Lost estava no ar, uma carga certamente atribuída pro Damon Lindelof (o roteirista ao lado de Jon Spaihts e do próprio diretor), isso por que ele foi um dos responsáveis pelo roteiro do seriado. Então, não é de se estranhar a semelhança.

Com certeza, não estamos falando de uma trama perfeita, entre seus acertos se coloca pequenos erros de percurso, deixando claro, que depende muito do ponto de vista de quem vê. O fato é que funciona, intriga o público e não dá sono. Mesmo quando parte de quem viu coloca em suspeita a verdade sobre uma cena em especial, o momento em que a protagonista Elisabeth Shaw utiliza para fazer seu próprio parto, uma maquina de operações para homem, o que provoca um possível erro de verdade, já que se seguirmos a risca a realidade seria impossível o seu bem estar após a circunstância. Mas o que ninguém pode negar é que esse plano em questão possui uma competência cinematográfica para babar na cadeira, falo por mim, que foi uma das coisas mais agonizantes que já vi nos últimos tempos no cinema. Além de provocar a inquietude da platéia, uma força capaz de fazer o sujeito desconcentrado não mexer um fio do cabelo.

Dentro da produção sobra espaço para questões filosóficas, notamos o quão pouco afundo se vai nelas, em contra partida precisaria haver uma posição da própria trama, de querer aprofundar e seguir num caminho diferente do que propõe o enredo ou ir às vias de fato de verdade, seguindo a risca e cumprido com o objetivo.

Houve também muito falatório sobre a não evolução da protagonista e o excesso de abordagens religiosas, para mim, isso foi bastante tranqüilo e ainda me trouxe a magia das historias antigas, quando, o herói não desiste de sua crença independente do ocorrido. Para alguns a escassez de algo evolutivo, para outros e eu me encaixo nessa, a presença constante do que acredita e difícil de se derrubar.

Outro ponto instigante em citar, é o personagem que o Michael Fassbender fez brilhantemente, cá pra nós, a cada nova interpretação, o ator alemão está registrando sua competência e mostrando que será um dos grandes nomes do cinema. David é um robô, mas talvez esteja na sua figura, toda a dualidade do ser humano, com seu raciocínio lógico e com a sua gratidão guardada em pro do seu criador. O personagem protagoniza os melhores momentos da produção, trazendo por meio dele, a maioria das questões sem respostas. Não é espantoso o seu desenvolvimento final.

Elizabeth Shaw

Chovendo ainda no elenco, a protagonista Naomi Rapace, também merece créditos por sua atuação sensível e forte ao mesmo tempo. O seu personagem veio de frame a frame buscando importância, ouvindo bastante e a todo o momento sem mudar o seu foco, ficando inerente em detrimento dos fatos. Uma construção genial de alguém que poderia suar plastificada, mas que por direito alcançou seu espaço.

No final das contas, é um belo filme e merece ser visto na telinha do cinema, sem filtros de ninguém, aberto para excelentes horas de diversão, sua vista agradece. Podemos dizer milhões de coisas sobre alguém ou algo, mas tudo se revela quando nós mesmos notamos o que se tem na nossa frente.

Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios (Brasil), 2012

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Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios pode se gabar de ser um dos melhores títulos de filmes dos últimos tempos. Lembro que o meu interesse pela história surgiu por seu nome extenso do que outra coisa. No entanto, teria que assistir e ver se o seu conteúdo fazia juz à poesia escrita.

Longe de ser pretensioso e achar que a minha opinião determinaria alguma coisa, porém o significado dessa longa frase trouxe deveras inspirações e fazia a cada nova divulgação aumentar a minha expectativa.

A produção roteirizada e dirigida por Beto Brant com a colaboração de Renato Ciasca é uma adaptação do livro que leva o mesmo nome da trama, escrita por Marçal Aquino, que também colaborou com o roteiro.

Na trama, como de costume nas obras de Brant existe um clima intimista, um Brasil um pouco conhecido pelos demais. Boa parte da história é habitada no norte, no estado do Pará, criando em  seu público a sensação de uma nova realidade, levando em consideração que a maioria da bilheteria desconhece a região filmada. Por isso, que logo de cara, entre o rosto de seu protagonista, O fotografo Cauby (Gustavo Machado) e as os civis do local, o nosso olhar se desvia em meio a tantos rostos sofridos. Índices que mais tarde viriam a confirmar a atmosfera triste do enredo.

Com o excelente roteiro, vemos de uma maneira nem tanto eficaz a montagem que mostra as idas e vindas entre o passado e o presente. Nesse clima, conhecemos a bela e ex- prostituta Lavínia (Camila Pitanga) e o seu marido e pastor Ernani (Zé Carlos Machado). Num plano secundário, porém fundamental para o desdobramento da história, também conhecemos o jornalista Victor Laurence (Gero Camilo).

Dentro de um argumento bastante real, portanto rotineiro em nossa sociedade, o longa metragem conta a rotina do trio amoroso, Cauby, Lavínia e Ernani em meio a uma terra que através do seu clima distante e escuro estabelece o seu retrocesso e o flerte com o passado, transparecendo uma total falta de estrutura, que em relação as outras partes do país consegue ser ainda mais precária, seja nas condições básicas ou nas relação pessoais ali mostradas.

Dessa maneira, a religião não só tem seu espaço registrado como também direciona comportamentos e ações, em contra partida se analisarmos o todo, encontraríamos a mesma doutrinação presente no sudeste, com tudo na região habitada pelo filme presenciamos a doutrinação sem nenhuma flexibilidade, beirando a escassez total de orientação intelectual.

É interessante notar, que os três personagens se contrapõem em suas personalidades, enquanto o fotografo é um homem ideológico e independente, a ex-prostituta é a figura que mais se aproxima daquele espaço, fatos exaltados através dos seus receios infinitos, já Ernani é a redenção de um individuo, que foge das tentações da capital e por meio dos seus bons pensamentos visa determinar, controlar e não sugerir. Nesse caso, Lavínia vive num paradoxo, precisa se mostrar controlada por seu marido, pela gratidão que sente, enquanto sente vontade de se entregar ao mar de possibilidades de Cauby, mas tem medo da sombra que essa decisão tomada pode criar.

Em relação aos recursos técnicos, a produção mostra-se de alta qualidade, a fotografia de Lula Araujo tem vida, retratam as angústias dos espaços filmados, a câmera acompanha a situação, os rostos, adentra nas fotografias estáticas, sai do habitual. O elenco para mim é o ponto alto da fita, O trio principal dá um show de interpretação, um cuidado com cada fala, uma sensibilidade na roupagem daquelas pessoas sofridas, uma sincronia que nós atinge e causa no público uma angústia de querer saber o desenrolar daquelas dramas narrados.

Outro fator que chama a nossa atenção e reforça a realidade daquela circunstância, é a mistura do real e fictício, quando em determinada hora, a direção estabelece uma importância ao fato recorrente ao ano passado, quando houve um plebiscito na região que dava a escolha a sociedade em decidir se o estado do Pará seria dividido.

Pontos altos que juntos completam uma obra importante a ser visto, seja pela delicadeza do seu acabamento ou pela vontade que os atores nós passam em cada cena ou por qualquer outra coisa que faça você se entregar ao melhor filme de Beto Brant.

Paraísos Artificiais (Brasil), 2012

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A batida parece se conectar com o nosso cérebro, que por sua vez ativa o nosso corpo, o balanço entra em comunhão com o ritmo. De repente a juventude prevalece e os problemas se afastam de nossa visão. Somos levando ao um paraíso artificial.

O filme Paraíso Artificiais dirigido pelo estreante Marcos Prado usa o universo da música eletrônica para narrar às idas e vidas de um amor. Particularmente por ter freqüentando por um longo tempo esse ambiente, fiquei interessado em conferir essa produção.

História que inicia contando os fins para mostrar os meios. Saindo de uma prisão, conhecemos Nando (Luca Bianchi) um jovem da classe média, assíduo freqüentador das festas eletrônicas. Já de premissa, reparamos em sua feição triste e desgastada, como um contraponto, a própria montagem embarca no passado para mostrar o mesmo personagem ao avesso, exalando esperança e juventude.

Igualmente importante para a trama, encontramos Érika (Nathalia Dill), uma garota também da classe média, que é uma DJ em ascensão, ao lado de sua amiga Lara (Lívia Bueno) demonstram toda a magnitude dessa amizade, além de terem a leveza de curtirem cada momento como se fosse o último.

O fio condutor trata de entrelaçar a vida do trio, que parecido com uma viagem, embarcam num infinito mundo sensações, provocadas pelas drogas alucinógenas. Entre uma praia paradisíaca do nordeste, o Rio de Janeiro contemporâneo e Amsterdã, ocorrem os três tempos do longa metragem. Planos que trazem a tona outros personagens importantes para o desdobramento, Patrick (Bernardo Melo Barreto) e Lipe (César Cardadeiro), o primeiro amigo e o segundo irmão de Nando.

Dentro da montagem frenética, como se pede o roteiro, vemos nos primeiros momentos duas falhas que a meu ver desestruturam o andamento do filme e o torna um tanto desinteressante. A primeira falha é a presença de insights sem propósito algum, a não ser o de chocar e a criação de uma falsa ilusão de aproximar o público da sensação de estar drogado, ou seja, digo a parte em que os personagens da Érika e Lara estão alterados pela planta dada por Mark (Roney Vilela) e começam a imaginar paisagens, quebrando totalmente o frenético andamento de cenas que até ali estava ocorrendo e não agregando informação nenhuma com essa cena.

A segundo falha, não tão radical, porém que senti falta, foi á ausência de conflitos na primeira meia hora da produção, por qual só recebemos imagens e acompanhamos o percurso dos protagonistas, sem falar que nesse tempo, o abuso de clichês é evidente, como na caricatura imposta no personagem que trafica as drogas de Amsterdã para o Brasil.

Porém, da meia hora em diante, o crescimento da trama também é evidente, quando o conflito surge e toma a nossa atenção, apesar de ser um argumento batido e que nesse caso não inova, simplesmente mostra o mais do mesmo, somos agraciados por boas atuações e cenas que merecem destaque pelo refinamento, créditos a preparadora de elenco Fátima Toledo, que trouxe a verdade necessária e não se utilizou de recursos falsários.

Com tudo, a beleza estética da fotografia no quesito retratamento das raves deve ser dito e talvez seja uma das partes mais interessantes, com o qual o diretor realmente leva seu espectador para aquele universo e importante dizer que nada registrado ali é mais ou menos, está tudo equilibrado, a euforia e a viagem é aquela mesmo.

É engraçado e talvez só eu associe isso, mas em determinados momentos a relação entre Nando e seu irmão Lipe, lembra bastante os irmãos do “A outra história americana”. O irmão mais novo ser o espelho do mais velho. Séria de bom agrado se o próprio roteiro insistisse e aprofunda-se mais nessa relação, que com certeza daria muito pano na manga.

O saldo que fica é mais positivo do que negativo, apesar dos erros de percurso, vemos um bom cinema jovem. Um retrato dessa cena eletrônica que pela primeira vez é abordada pelo cinema nacional. Ainda não sei dizer, se a abordagem é isenta e visa mostrar somente, porém aquele moralismo chato e radical passa longe daqui, sendo um ponto alto.

Os Vingadores (The Avengers), EUA, 2012

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Dentro de uma analogia boba, adaptar “Os Vingadores” no cinema significa o mesmo que um gol marcado nos últimos minutos de um jogo ou a apoteose de desfilar num sambódromo ou se quiser qualquer exemplo que mostre como o protagonista projeta variados sentimentos de uma só vez, embutido por um êxtase que o leva a satisfação extrema.

Antes de prosseguir é preciso entender o que significa a reunião desses personagens da Marvel. Numa época (aproximadamente anos 60) no quais heróis como Homem de Ferro e Capitão America não conseguia dar lucro em suas publicações, a editora há exemplo de sua concorrente DC Comics, que ganhava dinheiro com a elaboração da Liga da Justiça (reunião de Super Homem, Batman, Lanterna Verde, Mulher Maravilha entre outros) resolveu fazer o mesmo é reunir seu próprio plantel de heróis, o que viria a se chamar “Os Vingadores”.

Apesar do seu universo quase infinito e sua inúmera legião de fãs dentro das HQs, o time da Marvel nunca alcançou a notoriedade que a turma do Super Homem e amigos têm fora do nicho quadrinho. Porém, se antes do século passado a maioria não sabia quem era Tony Stark, Thor e Cia, os estúdios de cinema da Marvel realizou com a maestria uma espécie de repaginada nos heróis, visto que Homem de Ferro abriu o caminho para o que é hoje um dos maiores segmentos de Hollywood, adaptação das histórias de quadrinho para tela grande.

Competência que é um dos pontos chaves para o longa metragem dos heróis da editora serem uma das obras mais divertidas dos últimos tempos, sobretudo uma diversão bem estruturada e que mostra uma qualidade impar.

Maiores méritos ao seu diretor e escritor Joss Wheldon que não só entende do universo que recriou como trouxe novos artifícios, fundamentos cinematográficos que foram muito bem utilizados, como a câmera em determinados momentos nos dizendo alguma coisa ou o plano seqüência final que leva e levou o público ao deliro, sem falar nas cenas de ações que são o charme a parte.

Se em questões técnicas a produção não peca, o mesmo não se pode dizer do roteiro, já que não é um primor, demonstra falhas e argumentos pobres que interligam as histórias dos membros. Com uma nitidez falta de ritmo, o começo não empolga e traz a problemática a se resolver da trama, fator que não se sustenta sozinho e não clama uma expectativa grande. Em contra partida, fazendo às vezes de advogado do diabo, se a parte manual é um pouco falha, não tem problema, o objetivo desse filme é entreter, trazer a velha magia da sétima arte para seus expectadores, inserir a gente no contexto dos super heróis.

O Objetivo mais do que cumprido, feito que em tempos não se via no cinema, o burburinho que chegou a ser previsto deu lugar certeza vista nas lotações nos cinemas do Brasil. Ações concretizadas através de um marketing de se tirar o chapéu, construído há tempos pela Marvel estúdios.

Balanceando a participação dos seis heróis, conseguimos enxergar a relevância deles bem dividida na trama, a princípio um Capitão America meio deslocado desdobrando-se ao líder nato que é – uma reviravolta parecida ocorre com o Homem de Ferro que deixa claro sua escassez de trabalho coletivo a mudança, até como forma de caráter, a enfim maturidade alcançada do personagem que começa a se importar com os outros. A Viúva Negra e o Gavião Arqueiro conseguem desde sempre suar importante e tem nas suas figuras a amarra para outros personagens, uma que se mostra mais serena e confiante (o que faz seu papel ser notado e levado a sério) e o outro que inicia como uma força a ser combatida até a redenção. Já o Thor se mostra um cara tanto melancólico, sentimento que tem explicação e razão, por ver seu irmão Loki o vilão da história, porém seu estado de espírito vai se modificando de acordo com a sua relação com os outros componentes.

E para finalizar, a melhor construção foi a do Incrível Huck, sem dúvidas é o ponto mais carismático e o que liga todos no filme, por meio dele que as coisas acontecem, mesmo se não for de uma maneira visível, vemos as entrelinhas, também notamos um personagem que guarda segredos e se mostra mais leve do que os outros, apesar de possuir o carma que tem.

Quando o objeto conquista um espaço que pode ir além de sua estrada aparentemente conhecida, as visões sobre ele serão ainda mais variadas e estarão restritas na simples luta do bem e do mal, se é bom ou se é ruim. Talvez, o provável destino dessa fita, que mostra na tela tudo o que a gente precisava ver – a reunião de uma grande seleção, o Brasil de 82 ou a Laranja Mecânica de 74 – enfim, aquela obra que não tem pretensões de ser a melhor, mas determinante que uma vaidade qualquer, o seu conteúdo promove o sonhar, faz a platéia voltar a ser criança e esquecer por minutos a calamidade de ser um adulto.

Um lugar sem nome e luz

Meu olhar me encontra onde não estou. Nessa nossa noite deitei meus sonos pra você. Enquanto lá fora grita frio, as paredes desse quarto mostram ruínas por já não agüentar minhas vontades. Concreto abra a passagem e deixe-elas irem com suas alucinações, esquisitices e inocências. Sinto preparo e maturidade para sair no meio do breu, atravessar a ponte e ter o lugar que deveria estar. Não faço. Todos possuem limites, os meus já não se chamam assim, abandonou um corpo que já não sabe o que é medo. Mesmo assim não coloco os sapatos, deito um falso sonho pra me distanciar de mim.

Deitar sonhos é preferível a esmagar pessoas com um olhar. De repente, ouço um barulho, a ausência da luz impende de distinguir se vem de dentro ou fora. O silêncio vigia o que nunca se arriscaria a acontecer. A mesma possibilidade de infinito gerada pela temperatura fria de ontem, abriga um mesmo dia de hoje, no final das contas só muda a cor. Noto que meu nome não serve para nada nesse espaço distante. Esqueço do que não deveria lembrar. Lembro do que não deveria lembrar. Lembro e esqueço. Só resta intangível e na ausência da luz não sei o que me cerca, nem mesmo solidão é possível. Fingir um riso pareceu conveniente para o tempo que não construo. Construções: esqueço a palavra, lembro a palavra, só resta intangível, solidão, não se concluiu se está.

Palpitações dentro de mim – noto que não existem sapatos, reparo que não tem sonhos. Deito pesadelo. Acordo pesadelo. O lugar que deveria estar é guardado no corredor das minhas lembranças. A briga é constante, consigo escondê-lo, a vontade é constante, um olho fecha, o outro olha, os dois apagam, o corpo permanece desnutrido. O barulho é esquecido. Sei que fugir dos dias não estava nos planos, em, todavia ter guardado a paisagem que não me vê, pareceu apropriado para a ausência da hora que se predominava. Não distinguir a realidade da alucinação, foi um gesto do corpo entrando em conflito com o nada. O mesmo nada, em que as portas foram abertas e se ouviu de alguém sem rosto: Saia e abre a vaga para as próximas férias na solitária.

Qui suis-je dans tout cela

Abraçado de si mesmo, percebeu pelo andar, que as suas roupas compartilhavam o mesmo envelhecimento dos dias passados. Levante a cabeça, arrume as costas, estufe os peitos, interaja, sorriso no rosto, sente saudades da antiga cartilha que lhe ordenavam quando era apenas um menino menor de idade. Sente os cheiros da tarde infinita, outrora seus olhos não percebiam as horas. Ouvindo a música não chega a ser velho, mas se assusta, quer dizer o susto não vem, à palavra certa para isso nem existiu ainda, o que surge diante do impasse é a certeza de não ser o mesmo de ontem. Não renega mais os espelhos, se tornaram apenas um objeto que fica a mostra nos banheiros públicos da cidade. Não briga e nem se obriga há passar o tempo durante o caminho de casa. O livro que começou ontem já está na metade. Não importa a linearidade das coisas, as formas concretizadas, a única manifestação importante é o amor. Precisa manter essa chama. Olhar para o guarda roupa é perceber que aquela camiseta outrora nova já grita as manchas do tempo é triste demais pra expressar. A música continua, as caixinhas de som não pararam, seguem firme soltando ruídos de uma música estrangeira cantada por um brasileiro. Na internet, as coisas são ditas sem o compromisso com a verdade. Daqui a pouco, alguém do outro lado do mundo conquista algo, em seguida alguém a quilômetros de distância perde sua conquista. Entender o infinito requer imaginação e, sobretudo criatividade. Como ritmos sonoros fazem a gente ter coragem de darmos abraços em si mesmos? Não posso negar que dentro de mim existe uma enorme contradição, que ferve de acordo com as minhas atitudes. O que estava fazendo nesse mesmo horário e nesse mesmo dia á 11 anos atrás? Poucos entendem o infinito, se torna uma questão de se permitir. Perceber que crescer significa se livrar da cartilha de bons modos não é infinito, é tempo não esperando a gente chegar. O artista de hoje não sobrevive sem um hit novo. Modificaram os charmes de ontem. Conversar na internet há 11 anos parecia motivação e descobrimento, hoje é um jogo de vaidade. O telefone antes era passatempo, hoje é compromisso. Ficar sem o que fazer a tarde era infância, hoje é coisa de vagabundo. Não ter a certeza que a atualidade se enquadra em você é um problema, com tudo, sempre haverá um novo filme para lhe renovar. Uma nova música para fazer você andar á deriva. Os muros pixados acompanham o seu crescimento, as paisagens gritam enquanto está amassado dentro de um vagão. As coisas estáticas percebem conquistas e perdas. A música não para e não tem culpa da sua não mais nova calça pós-lavagem se tornar antiquada. O artista de hoje não precisa de gravadoras. O charme de ontem às vezes volta não sendo charmoso, mas, eficiente. Os interesses se mudaram, foram parar em outra cabeça, aquele interesse do velho veio parar na nossa cabeça e o nosso interesse foi parar na cabeça adolescente. Sentir saudades da rua augusta não é mais a sua sina. Recordar do que não passou chega a ser estimulante. Habitar corredores desconhecidos sem as cicatrizes do passado chega a ser possível. Já está na hora da gente acordar, chegaram os dias de sentirmos outras sensações. Aquele livro empoeirado pode ser visto agora pelos olhos da gente. Lire ce livre avant le coucher peut être possible. Ce paysage finement que vous rencontrez. La marche semble être approprié pour vous. La linéarité est fondamentale. Nous allons visiter ces lignes plus loin, il semble être nostalgique, mais tout droit, tourner à gauche, devient l’évolution. Um amigo, uma vez me disse que o tempo resulta sempre os melhores finais.

Semelhanças nos filmes Drive e Shame

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O que os longas metragens Drive e Shame têm em comum? Além de ambas as produções terem sido esquecidas pelo Oscar nas principais categorias e a atriz Carey Mulligan estar presente nas duas histórias, a resposta está no caráter de seus protagonistas, os dois trazem em suas personalidades uma leve semelhança no que diz respeito ao uso do instinto humano. Isso, porque o Drive (Ryan Gosling) e Brandon (Michael Fassbender) demonstram fragilidade e perda de controle quando utilizam seus instintos mais íntimos.

Na sinopse das duas produções, o personagem de Drive é um homem solitário que trabalha como duble de filmes e nas horas vagas é piloto de fuga, em contrapartida, a sua vida pessoal se desdobra quando se aproxima de uma vizinha e se apaixona, como se no momento soubesse que dessa paixão a sua vida poderia sair dos trilhos do seu controle, em Shame, o seu protagonista é um empresário viciado em sexo, que não consegue manter a sua vida tranqüila por conta do vicio e para piorar a sua situação, a sua irma acaba-se de mudar para seu apartamento, mostrando fortes doses de carência, o que se torna um contraponto diante da sua obsessão.

Capa do filme Drive

Capa do filme Drive

Em Drive, a fita dirigida por Nicolas Winding Refn, o personagem se mostra totalmente distante do seu redor quando é levado há estabelecer uma relação com outra pessoa, ao mesmo tempo em que diante do seu ambiente de trabalho mostra-se o domínio total das possíveis possibilidades que podem ocorrer como se estivesse há frente do seu tempo.

Capa do filme Shame

Capa do filme Shame

Já em Shame, obra dirigida por Steve Macqueen, Brandon também demonstra limitação em seus relacionamentos, no entanto, ele se esquiva por estar dominado na sua obsessão e não, por ter dificuldade em se comunicar.

As duas produções demonstram histórias coesas e humanas, apesar de quando analisadas sem a compreensão das nuances parecem ser distintas em suas essências, porém estão narrando às dificuldades nos percursos da vida de um indivíduo, só que utilizam um prisma diferente.

O piloto que evidencia sua confiança em todos os pontos da trama, deixa transparecer em detalhes, a sua segurança sendo rompida pela paixão. Paixão essa que transforma a sua vida quase padronizada.

Shame

Shame

Todos os pontos da trama de Shame identificam a lacuna do seu protagonista, o clima cinza retrata a sua tristeza e o forte uso da trilha sonora surge para cobrir o incrível vácuo que se tornou a sua vida.

Em compensação a trilha sonora em Drive aparece para confirmar a sua queda de humor e a crescente crise das circunstâncias que o seu protagonista se envolveu e. Em muitos momentos conseguimos enxergar através do silêncio estabelecido pelas cenas o mundo desse sujeito sem nome e que fala pouco, mas tem uma feição que se comunica bem mais que qualquer palavra dita.

Brandon no filme Shame

Brandon no filme Shame

O silêncio de Shame é angústia de Brandon, que por meio do seu rosto grita e pede socorro em todas as ocasiões, seja por um olhar vazio dado na janela do quarto que aluga ou pelo ato de redenção onde queima todos os produtos pornográficos que detém. Mas a verdadeira redenção é assumir o problema e depois começar enxergar as possíveis saídas através de sua confirmação. O mais fascinante na obra é que em nenhum momento, fica claro que Brandon sabe exatamente o grau de sua dependência sexual, algo que está ao nosso cargo decidirmos, já que o começo e o final terminam aparentemente com a mesma situação e no mesmo espaço.

Drive

Drive

Porém, no caso do drive não é encontrado uma saída e muito menos uma perspectiva, já que a situação no qual entrou deixará fortes traumas futuros, então, é decidido dar uma basta de uma vez por todas afim de um desfecho final no clímax. Através de cenas memoráveis sabemos os momentos de despedidas e decisões do protagonista.

O curioso é que em ambas as tramas, as personagens da Carey Mulligan funcionam como um possível refresco para seus protagonistas, a possível mudança que não ocorre, o tipo de pessoa que pode surgir na vida de outra para esclarecer respostas e promover momentos tranquilos. Só, que o oposto também ocorre, através de sua presença que a vida de ambos são testadas e reviradas de uma forma que foge do próprio domínio.

Cena do elevador no filme Drive

Cena do elevador no filme Drive

Outra semelhança que ambas as fitas usufruem é a sutileza em registrar sentimentos e criar verdadeiras obras de arte em determinados momentos, como em drive, a cena do elevador em que o sujeito sem nome enfim se entrega a sua paixão, em compensação a sua entrega já tem clima de despedida, é como se dissesse a sim mesmo, estou experimentando o seu beijo, porém vou precisar ir embora da sua vida e nessa ocasião temos a iluminação da câmera baixando pouco a pouco como se houvesse parado o tempo para o registro, em questões de segundos as luzes voltam ao seu normal quando o piloto precisa matar a pessoa que divide o mesmo elevador com o casal e está lá para matá-lo, ou seja, além dos recursos técnicos, a cena diz muito, mostra como esse protagonista pode habitar diferentes sentimentos em questões de horas, amor e de repente o ódio.

Shame

Shame

Em Shame, a cena que vale a contemplação é quando o empresário está transando com duas melhores e nenhum momento a câmera registra o rosto delas, o que vemos na tela são pedaços dos seus corpos, pedaços daquela transa, como se estivéssemos dentro da mente do protagonista, como se estivéssemos testemunhando a razão sendo reprimida pela obsessão carnal, a que já não satisfaz, mas que através do seu rosto vemos a sua infelicidade e a sua queda, o momento que inconscientemente admite a derrota e não tem como controlá-la.  A trilha é usada como fator determinante nessa ocasião camuflando o abalo (fragilidade) de um ser humano.

Drive

Drive

Drive e Shame expostos em seus fragmentos são obras para serem cultuadas não só por cinéfilos, mas por qualquer pessoa que se identifique ou estude os andamentos da vida. Dois filmes que usam a verdade como o fio condutor, apesar de Drive ter uma cena ou outra remetendo grandes clássicos de ações revela uma atmosfera real e sombria, investe no silêncio ao invés de inserir diálogos vazios. As duas sinopses são intimistas, têm cheiro, cor e tristeza por isso deixaram em mim uma inquietação que dura até agora.

O Homem que mudou o jogo (Moneyball, EUA, 2010)

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O Homem que mudou o jogo (Cena do filme)

O longa metragem dirigido pelo cineasta Bennett Miller é uma adaptação do livro Moneyball: The Art of Winning Unfair Game de Michael Lewis, inspirado em uma equipe californiana que inovou em sua estratégia de jogo.

É impossível não ser romântico com o baseball, fala marcante de Billy Beane (Brad Pitt) gerente do time americano Oakland Athetics que explica muito sobre a atmosfera desse esporte, que é o fio condutor da história.

A tela mostra que é começo de temporada e a equipe de Oakland Atletics se mostra abalada pela derrota nos playoffs na liga passada e anseia conquistas, no entanto alguns jogadores importantes foram vendidos e pelo baixo orçamento do time, Billy não pode fazer nenhuma contratação milionária para reposição. Em paralelo a falta de perspectiva em sue trabalho, o passado parece não abandonar o gerente.

Peter Brand (Cena do Filme)

A trama registra as imagens no campo de uma forma secundária, os principais lances aparecem em relances, como se fosse uma transmissão ao vivo, à prioridade é vivenciar os bastidores. E é uma das conversas em que Miller trava com alguns magnatas do esporte que conhecemos Peter Brand (Jonah Hill) um recém graduado em Economia que têm uma forma singular de enxergar os mecanismos de se contratar um jogador.

Mecanismo que não demora a chegar à Califórnia, especificamente na equipe gerenciada pelo personagem vivido por Pitt. Uma forma que se baseia em contratar jogadores de acordo com uma seqüência de números, conforme o tempo que determinado jogador fica na base dentro do jogo, sendo assim, muitos jogadores desvalorizados por alguma deficiência, que em compensação mostram seus potenciais em outros pontos individuais são contratados, por um preço em conta. É um padrão de como jogar, uma forma de trabalhar o coletivo em pró das vitórias.

Uma nova estratégia que não agrada nada o grupo de olheiros da equipe em especial o seu treinador Art Howe (Philip Seymour Hoffman) que ao decorrer da fita será uma dos empecilhos para a nova idéia não sair do papel.

Billy Miller e sua filha (Cenas do filme)

Um dos pontos fortes da produção é não querer ser mais do que é, portanto assistindo enxergamos que a sua narrativa é comedida, direta como deve ocorrer em uma demissão de algum jogador, fato explicando por Billy. A trama não enrola. Idêntico uma partida de baseball desde os créditos iniciais sabemos que existe um objetivo.

Novamente usando as metáforas para remeter ao mundo particular do Baseball, o seu ritmo é dinâmico, paramos poucas vezes para respirar, talvez quando Billy se envolve com sua filha e ensaia mostrar que a sua vida não se resume ao esporte, porém são momentos que indiretamente o ligaram a sua profissão. Em, todavia, vale ressaltar que o dinamismo ocorre não pelas partidas, mas através dos diálogos travados e a rotina da parte gerencial que mostra de uma forma crua essa paixão esportiva.

Billy Miller com sua equipe (Cena do Filme)

A partida não termina, temos uma obra que se livra dos velhos clichês habituais em outros filmes do mesmo gênero e entrega ao público uma adaptação madura e coesa ao seu universo. Particularmente achei fantástica a película e adentrei nessa paixão americana mesmo sabendo que teria hora da brincadeira acabar.

Sobre banalização, crítica e Hugo Cabret

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O diagnóstico atual da nossa sociedade: Perdemos para o nosso ego, vivemos tempos frios e distantes de nós mesmos. A banalização se torna a grande protagonista desse enredo mudo, a nossa rotina se cria através de comentários bobos e preconceituosos. E a sensatez foi posta no porão, seguimos padrões maniqueístas e atiramos nossas opiniões para todos os assuntos, presos no bem e no mal, no sim e no não, cegos, desprovidos do olhar para o detalhe e a entrelinha jamais pareceu tão abandonada.

Há pouco mais de uma semana, veio elaborando no pensamento e brigando contra meu cansaço mental de contestar esse egocentrismo que surge aos quatro cantos da sociedade, por achar de valia um grito no escuro, a favor da criatividade em detrimento do egoísmo, ou seja, ter a ciência de que a vida não se faz apenas por duas visões diferentes, que podemos tirar milhões de proveito de um objeto e no final nem sequer aproximar-se do bom ou do ruim.

Partindo para o campo cultural, a crítica em boa parte do seu exercício se julga mais importante que o próprio objeto estudado, uma deselegância intelectual sem cabimento. Particularmente, penso que a crítica bem definida é importante para iniciar-se a determinada obra e ajudar o leitor enxergar as entrelinhas (visando identificar a razão de determinados sentimentos obtidos pelo público na sessão). No entanto, quando os críticos estão preocupados em mostrar seu conhecimento extraordinário e esquecem de fato, de analisarem o que se propuseram analisar, mostra-se um incrível desserviço com a comunidade em geral e abre-se a janela do descartável, embora esse, na maioria do caso doutrine indivíduos influenciados a serem clones de discursos incoerentes e farsescos.

Hugo Cabret (Imagem do Filme)

A minha pulsação que já vem há tempos, principalmente quando observo a banalização surgindo da boca de alguém, retornou de maneira agressiva, pós seção do longa metragem “A Invenção de Hugo Cabret”, quando deparei em diversos portais,opiniões tontas, grosseiras e sem cabimento, entretanto os dois fatores no quais julgo de menor tolerância é a ausência do amor e alma pela própria sétima arte comprovado nas opiniões, vindas de profissionais que dizem ser cinéfilos, dependentes dessa arte para viver.

Vale ressaltar que a ausência de amor pela sétima arte foi apontada visto que o novo filme de Martin Scorsese é uma singela e formidável iniciação ao cinema e funciona também como uma bela homenagem, portanto o tratamento dado deveria ter sido mais respeitoso. Mesmo se nos créditos finais alguns erros fossem identificados. No entanto, é importante enfatizar que não é obrigação de ninguém gostar do filme, em contra partida, se o argumento for contrário que seja sólido e bem estruturado, já que atacar defendendo o histórico do diretor em detrimento da atualidade me parece um tanto infantil. Visto que uma posição assim se pauta pelos feitos antigos e engessa qualquer oportunidade de se reinventar.

Martin Scorsese - Diretor do filme Hugo Cabret

E tem certas obras que surgem de uma necessidade de trazer-nos um saudosismo do que não vivemos ou levar-nos ao novo universo, tendo como objetivo o compartilhamento da magia, e nesse exemplo citado, a magia é a essência do cinema que deseja ser vista por muitas pessoas. Entenda bem, antes de toda burocracia intelectual, vamos contemplar e agradecer e não analisarmos como um objeto comum sem alma e cor. Criatividade primeira, emoção em seguida e depois racionalização.

A adaptação cinematográfica do livro que leva o mesmo nome do longa metragem, do escritor Brian Selznick é um primor por ir contra o mercado de entretenimento barato e sem ar. Há todo momento registrado, nós (público) sentimos dentro da estação de trem. Um personagem secundário que habita aquele mundo e respira Paris dos anos 30.

Cena do Filme Hugo Cabret

Mostrando as vias de fato, uma parte da crítica, sobretudo os mais novos sustentam a herança do culto pelo passado ao mesmo tempo em que contraria essa posição, ou seja, esquecem da alma em algum cyber café Cult e são influenciados por alguma opinião maior e transforma-se em cibernéticos da análise crua.

Podemos enxergar pontos negativos em Hugo Cabret, talvez o ritmo da narrativa um pouco lento, porém a generosidade desse mestre em criar um universo impar, aproximando o novo com o antigo, recriando circunstâncias que pautaram a história dos primeiros filmes existentes, trazendo a tona nomes do cinema, que certamente estarão esquecidos de forma burocrática em enciclopédias do mesmo.

O empobrecimento do individuo surge quando não existe uma visão ampla de determinado assunto. Simplesmente apontar defeitos e estar indiferente dos possíveis percursos que a produção possa tomar, logo do seu poder em atrair novos cinéfilos é vazio. Tenho cá, a idéia que a história do menino órfão possa aproximar muita criança ao mundo cinematográfico e também faça muitos olharem com outros olhos os livros em geral, como uma forma divertida de obter conhecimento, um possível resultado inconsciente. Sem falar que a história motiva as crianças a estudarem de uma forma espontânea e divertida.

O Artista

A invenção de Hugo Cabret não é uma obra prima, em compensação é uma obra definitiva. Um exemplo que utiliza do mesmo objeto trabalhado, O Artista (Diretor: Michel Hazanavicius), queridinho de alguns e rejeitados por outros é tão belo e formidável quanto Cabret. Uma produção que agradece a sua existência e convida a gente para admirar o seu grande pai: O Cinema.

Apesar de estarmos na era da curtição, da necessidade de qualificação restrita em duas visões sempre existirá a sala escura, a pipoca e a bela história mostrada na tela. O Artista e Cabret não mentem.