Meu olhar me encontra onde não estou. Nessa nossa noite deitei meus sonos pra você. Enquanto lá fora grita frio, as paredes desse quarto mostram ruínas por já não agüentar minhas vontades. Concreto abra a passagem e deixe-elas irem com suas alucinações, esquisitices e inocências. Sinto preparo e maturidade para sair no meio do breu, atravessar a ponte e ter o lugar que deveria estar. Não faço. Todos possuem limites, os meus já não se chamam assim, abandonou um corpo que já não sabe o que é medo. Mesmo assim não coloco os sapatos, deito um falso sonho pra me distanciar de mim.
Deitar sonhos é preferível a esmagar pessoas com um olhar. De repente, ouço um barulho, a ausência da luz impende de distinguir se vem de dentro ou fora. O silêncio vigia o que nunca se arriscaria a acontecer. A mesma possibilidade de infinito gerada pela temperatura fria de ontem, abriga um mesmo dia de hoje, no final das contas só muda a cor. Noto que meu nome não serve para nada nesse espaço distante. Esqueço do que não deveria lembrar. Lembro do que não deveria lembrar. Lembro e esqueço. Só resta intangível e na ausência da luz não sei o que me cerca, nem mesmo solidão é possível. Fingir um riso pareceu conveniente para o tempo que não construo. Construções: esqueço a palavra, lembro a palavra, só resta intangível, solidão, não se concluiu se está.
Palpitações dentro de mim – noto que não existem sapatos, reparo que não tem sonhos. Deito pesadelo. Acordo pesadelo. O lugar que deveria estar é guardado no corredor das minhas lembranças. A briga é constante, consigo escondê-lo, a vontade é constante, um olho fecha, o outro olha, os dois apagam, o corpo permanece desnutrido. O barulho é esquecido. Sei que fugir dos dias não estava nos planos, em, todavia ter guardado a paisagem que não me vê, pareceu apropriado para a ausência da hora que se predominava. Não distinguir a realidade da alucinação, foi um gesto do corpo entrando em conflito com o nada. O mesmo nada, em que as portas foram abertas e se ouviu de alguém sem rosto: Saia e abre a vaga para as próximas férias na solitária.