O busão para no meio da rua, pouco se sabe o que houve detrás da aglomeração de pessoas. Não demora muito é ouço os primeiros gritos e palavrões. Uma roda ensaia se formar. Deixem brigarem, ninguém se envolve, tapo meus ouvidos a ter que ouvir estas frases mal elaboradas. Duas mulheres brigando por falta de espaço. Uma morena, com o rosto cansando, usando um vestido humilde, com tatuagens amareladas no braço e levando um kit família a tira gosto. A outra negra, usando uma blusa branca e calça jeans, expressando em cada parte do corpo o descontentamento de estar indo aonde iria. Duas pessoas, duas personalidades, duas sofredoras compartilhando de um mesmo sentimento, o ódio de viver nas condições que vivem sem carregar um fio de esperança nos bolsos. Prato cheio para o selecionado público do entretenimento, ver com os próprios olhos uma briga de televisão sendo transmitida em tempo real. Platéia gritando, defensores apoiando seu lutador preferido, o individualismo agradecendo de um lado e do outro enfurecido.

Divago no desfecho final deste fato. Não me importo em como terminou, não agradeço por não ter acontecido comigo é não me sinto bravo pelo atraso que proporcionou.

Porém, vejo o amor cada vez mais distante na linha negra do metrô, enxergo momentos cheirando ilusão, sinto o gosto do individualismo plantado em cada rua, avenida e viela da onde existo.

Canso dessa rotina miserável, brigo contra o tempo dos fracos de espírito, vejo iguais lutando também, alguns persistem, outros se escondem atrás de coisas que não entendem direito é a maioria acaba cedendo à tentação.

Agora, deveria agradecer pelo pobre ter a oportunidade de enganar suas frustrações possuindo um carne das casas Bahia ou parcelando o carro bonito em infinitas prestações. Quem sabe, a caminho da balada, poderia passar na frente de um mendigo com indiferença é gastar todo o meu salário numa noite qualquer.

Mas não, perco o tempo escrevendo é acabo recebendo orientações para conformar-se com a situação.

O conformismo de viver num país onde a distribuição de renda é uma das piores do mundo. O conformismo de contentar-se com o populismo do presidente Lula. O conformismo de sentar a minha bunda no sofá e rir das piadinhas do maravilhoso Pedro Bial apresentando o Big Brother Brasil é ainda torcer por um participante ganhar um milhão. O conformismo de vibrar pelo Brasil na Copa do Mundo. O conformismo de ser conformado de estar vivendo onde existo.

Sem mais, me conformo de encerrar por aqui.